Artigo publicado na Folha de São Paulo

Nunca duvidamos do potencial que a tecnologia possui. Se utilizada de forma correta, cumprindo os princípios éticos e de cidadania, ela oferece benefícios em praticamente todas as áreas, do entretenimento ao engajamento social e comunitário.

O que seria da música eletrônica, por exemplo? Desde softwares de edição até uma moderna aparelhagem de luz e som faz com que os shows e produções artísticas fiquem completas e atrativas nas mãos de DJs talentosos. Isso sem falar da saúde, onde profissionais salvam vidas com equipamentos precisos, da segurança, com câmeras inibindo ações criminosas, ou do transporte, com veículos sendo guiados por meio de sinalizações digitais.

Agora, imagina só entrar em um momento conturbado do planeta, como o da pandemia de covid-19, sem ter sequer acesso à internet? Essa foi a realidade de 21,7% da população brasileira com mais de 10 anos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua do IBGE, realizada em 2019. São cerca de 9,7 milhões de estudantes que não têm nem aparelho celular, sendo 8,8 milhões da rede pública. Como estudar, em um período onde as aulas passaram a ser remotas?

São números alarmantes como esses que reforçam a necessidade de acelerar a inclusão digital. Temos que reverter essa situação com ações práticas, que possibilitem o acesso à tecnologia para que o jovem possa aprender, se qualificar, empreender e ter uma carreira profissional. Para isso, queremos trabalhar em uma mudança sistêmica. Esse caminho pode ser o dos “games”.

Os jogos eletrônicos podem ser vistos por muitas pessoas como simples lazer, mas vão além. Muitos deles exigem trabalho em equipe, concentração, raciocínio rápido e lógico para resolver desafios. O mundo gamer é democrático e não exclui a diversidade. Todos podem interagir, sem espaço para preconceitos. Nesse ambiente, é possível ter mais empatia, criando infinitas possibilidades de desenvolvimento para todo o tipo de habilidade e competência do século XXI.
É por isso que a ONG Recode se uniu ao Instituto Alok para lançar o “Games4Good”. O objetivo é criar uma consistente coalizão do mercado gamer para que, juntos, atletas de esports, influenciadores, representantes da iniciativa pública e privada possam se unir para ampliar o empoderamento digital e estimular a criação de jogos com propósito, incentivando jovens a desenvolverem ideias que tragam soluções do mundo virtual para o real, resolvendo problemas da sociedade. É preciso gerar políticas públicas para fortalecer a inclusão digital.

Para ajudar nessa conscientização, convocamos a sociedade para refletir no “Press Start”, um evento virtual que reunirá, em novembro, especialistas que debaterão as perspectivas do universo gamer nessa nova cultura que buscamos. Essa e outras ações estão disponíveis no www.recode.org.br.
Como em um bom jogo “multiplayer”, somente trabalhando em parceria poderemos derrotar o “vilão” da desigualdade e da exclusão digital e provocar uma transformação, fazendo com que os jovens em vulnerabilidade troquem a mensagem de “game over” pela oportunidade de seguir à próxima fase. Que tal se juntar a nossa aliança? Vamos “zerar” esse game?

Rodrigo Baggio – Fundador e CEO da Recode
Alok – DJ e produtor musical